segunda-feira, 24 de outubro de 2011

INÁCIO FERREIRA - OS MORTOS

 
OS MORTOS:

      Chorando, meu filho?
      Que é isso?

           Com efeito!
           Medo de morrer?

Não chore, meu filho. Nós não morremos.
Aquele carro todo preto, carregando um caixão todo enfeitado de fitas cor de ouro e acompanhado por várias pessoas, cujos semblantes entristecidos revelavam dor e mágoa, aquele caixão, meu filho, carregava apenas o corpo de uma pessoa...
Aquele corpo vai ser enterrado no cemitério onde, no fundo da sepultura, irá aos poucos apodrecendo, até se tornar em pó.
Mesmo assim, nós não morremos, meu filho.
Somos constituídos de um corpo – esse amontoado de carne que forma a pessoa, e do espírito, que é a força oculta que dá vida a esse corpo e o anima.
É o espírito que sente as dores, as alegrias e as tristezas; que tem os sentimentos bons e maus; que pensa, que age e raciocina.
O corpo, que é matéria, morre, apodrece e se transforma em pó.
O espírito, esse não morre nunca; continua vivendo sempre, voltando, de anos em anos, para tomar outro corpo e viver outras vidas na matéria.
É a mesma coisa, meu filho, que essas máquinas que só andam e produzem trabalho quando movidas pela eletricidade.
As máquinas representam o corpo – a eletricidade representa o espírito que move esse corpo.
As máquinas envelhecem, enferrujam, se estragam a ponto de ser preciso jogá-las fora, como imprestáveis, e no entanto, a eletricidade não é atingida nem desaparece com esse monte de ferros velhos.
Ao contrário, ela continua existindo, movendo sempre outras máquinas.
A mesma coisa se dá com o corpo e o espírito – o corpo apodrece e se transforma em pó – o espírito, como a eletricidade, embora não o vejamos, continua vivendo.
Deus é muito sábio, muito justo e muito misericordioso, meu filho.
Ele não nos iria criar, fazer crescer, gostar de uma pessoa, como eu e sua mãe gostamos de você, para, de repente essa pessoa morrer e desaparecer para sempre.
Deus não nos daria o amor, a amizade e o sentimento, só para nos fazer sofrer, roubando-nos com a morte essas pessoas a quem amamos, a quem temos amizade.
O corpo é, apenas o aparelho por intermédio do qual o espírito se manifesta.
Desaparecido o corpo, o espírito continua a viver.
Não tenha medo de morrer, meu filho.
Só temem a morte aqueles que não têm a consciência tranqüila, porque praticaram maus atos.
Mas, você que tem sido um menino bom, bem comportado e obediente, deve sentir-se alegre, satisfeito e feliz, à espera do momento em que Deus o chamar para o seu lado.
Fique certo, meu filho, que, mesmo após o desaparecimento do seu corpo, se Deus o levar antes de nós, você continuará vivendo ao nosso lado e ao lado dos seus irmãozinhos, nos ajudando e protegendo, por estar mais perto de Deus.
Quando Você ver, outra vez passar um enterro, não tenha medo da morte – porque não se morre; apenas, passa-se de uma vida para outra vida.
Desencarna-se, isto é, o espírito deixa o corpo, a carne, a matéria, para voltar à sua verdadeira vida – que é a vida espiritual na sua verdadeira pátria, que é o Universo. Não temas, pois, a morte, meu filho.
Nós não morremos.
Passamos, sim, de uma vida para outra vida. 
 
Inácio Ferreira

Fonte: Livro: Conselhos ao Meu Filho – Dr. Ignácio Ferreira – Impresso na Oficia do Reformador.*
* Nesta citada e antiga obra o nome grafado é Dr. Ignácio Ferreira.

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