UMA
TELHA
Passando
pela rua e lhe caindo aos pés uma telha, diz um homem: “Que sorte! Um passo a
mais e eu estaria morto.” Em geral é o único agradecimento que dirige a Deus.
Entretanto esse mesmo homem, pouco tempo depois, adoece e morre na cama. Porque,
então, foi preservado da telha, para, como todo o mundo, morrer alguns dias
depois? Foi o acaso – dirá o incrédulo – como ele
próprio disse: Que sorte! De que lhe adiantou escapar da morte no primeiro
acidente, se sucumbiu ao segundo? Em todo o caso, se a sorte o favoreceu, o
favor não durou muito.
A essa
pergunta o espírita responde: A cada instante escapais de acidentes que, como
se costuma dizer, vos deixam a um passo da morte. Não vedes nisso um aviso do
céu para vos provar que vossa vida está por um fio, que jamais tendes certeza
de viver amanhã e que, assim, deveis sempre estar preparados para partir? Mas,
que fazeis, quando deveis empreender uma longa viagem? Fazei os vossos
preparativos, arranjai os negócios, muni-vos de provisões e de coisas
necessárias para o caminho; desembaraçai-vos de tudo quanto pudesse dificultar
e retardar a marcha. Se conheceis o país
para onde vos dirigis, se lá tendes amigos e conhecidos, partis sem receio,
certos de serdes bem recebidos. Caso contrário, estudais o mapa da região e
arranjais cartas de recomendação. Suponde que sejais obrigados a empreender
essa viagem de um momento para outro, que não tendes tempo de fazer
preparativos, ao passo que se estivésseis prevenidos com bastante antecedência,
teríeis disposto todas as coisas para vosso conforto e vosso lazer.
Pois
bem! todos os dias estais expostos a empreender a maior, a mais importante das
viagens, aquela que deveis fazer inevitavelmente; e, no entanto, não pensais
nisto mais do que se tivésseis de viver para sempre na Terra! Em sua bondade,
Deus cuida de vós, advertindo-vos por numerosos acidentes, aos quais escapais,
e não tendes para Ele senão esta expressão: Que sorte!
Espíritas!
Sabeis que preparativos deveis fazer para essa grande viagem, que tem para vós
consequências muito mais importantes do que todas as que empreendeis na Terra?
Porque da maneira por que ela se realizar depende a vossa felicidade futura. O mapa
que vos dará a conhecer o país onde ides entrar é a iniciação nos mistérios da
vida futura. Por ela o país não será novidade para vós. Vossas provisões são as
boas ações que tiverdes realizado e que vos servirão de passaporte e de cartas
de recomendação. Quanto aos amigos que lá encontrareis, vós os conheceis. É dos
maus sentimentos que vos devereis desembaraçar, pois infeliz é aquele a quem a
morte surpreende com ódio no coração, como se fora alguém que caísse na água
com uma pedra atada ao pescoço, sendo arrastado para as profundezas. Os
negócios que deveis pôr em ordem são o perdão aos que vos ofenderam; os erros
cometidos para com o próximo, que deveis ter pressa em reparar, a fim de conquistardes
o perdão, porquanto os erros são dívidas, de que o perdão é a quitação.
Apressai-vos, pois, que a hora da partida pode soar de um momento para outro e
não vos dar tempo para a reflexão.
Em
verdade vos digo: a telha que cai aos vossos pés é o sinal que vos adverte para
estardes sempre prontos a partir ao primeiro chamamento, a fim de não serdes
tomados de surpresa.
O
ESPÍRITO DE VERDADE
Médium:
Sra. C. – Sociedade Espírita de Paris.
Revista
Espírita – Julho de 1862 – Allan Kardec.