CARIDADE
Fui convidada a atender
o apelo de uma mulher abandonada na sarjeta, à noite, com um filhinho esquálido
para alimentar.
O leite desaparecera
no seio sem vitalidade e, entre a desolação e o desespero, gritou meu nome,
pedindo-me socorro.
Corri, pressurosa, e
como nada possuo de mim mesma para oferecer, recorri a um homem que passava, bem
posto e perfumado, em companhia de uma jovem muito bonita e vestida com luxo,
para que me ajudasse.
Ele pareceu
ouvir-me, sorriu, incrédulo, meneou a cabeça, balbuciando, irônico: - Era só o que me faltava...
Corri na direção de
um templo religioso, repleto de fiéis em pleno culto. Todos ouviam palavras de
alento e de esclarecimento, muitas vezes a citação do meu nome.
Esperei que fosse
encerrado o ato de fé e acerquei-me de um cavalheiro forte e saudável,
transmiti-lhe o apelo em favor da infeliz sofredora, que se encontrava próximo
dali.
Ele percebeu-me, mas
olhou o relógio, recordou-se de um compromisso afetivo, refez a aparência e
seguiu indiferente.
Acerquei-me do
pastor brilhante que proferira as belas palavras, e transmiti-lhe o meu pedido
de socorro, projetando-lhe na tela
mental a cena da irmã miserável e do seu filho esfaimado, aguardando ajuda.
Ele entendeu-me a
solicitação, reflexionou e concluiu que não era possível atender a todos os
infelizes que havia nas ruas do mundo, pois que essa é a função social do
governo, logo encaminhando-se, insensível, na direção de um grupo risonho que
comemorava anedotário vulgar.
Eu lhe pedira ajuda
somente para aquela mulher e seu filho, não para todos os miseráveis do
mundo!...
Não desisti do meu
objetivo e segui procurando amparo.
Convoquei, quantos
fui encontrando na minha busca, sendo rechaçada em todos os tentames.
A noite avançava e
uma tormenta estava prestes a desabar.
Aflita, orei,
quando, então, na rua deserta vi uma figura solitária sobraçando embrulhos de
alimentos, que caminhava com vagar.
Tratava-se de uma
servidora doméstica de retorno ao lar, após um dia especial e exaustiva
atividade. Encontrava-se cansada e triste. Carregava o que conseguira comprar
com o resultado do trabalho, para atender os filhinhos que a aguardavam
esfaimados àquela hora...
Captei-lhe os
sentimentos bons e, aproximando-me, falei-lhe docemente: - Eu sou a caridade. Venho pedir-te ajuda para alguém mais necessitado
do que tu.
Ela ouviu-me, e,
receptiva, seguiu-me ao lugar sombrio onde se acolhiam os dois padecentes, sem
forças, tremendo de fome e de desespero.
Tomada de sincera
compaixão, e solidária, compreendeu a gravidade da ocorrência. Distendeu, resoluta
o braço vazio em direção à debilitada, que mal sustentava o filhinho,
convidou-a a seguir na direção do seu lar, onde os acolheu, alimentando-os ao
lado dos seus, auxiliando-os a sair da penúria e da morte...
Eu sei que a vida na
Terra está muito complicada, que os sofrimentos se multiplicaram e que as
técnicas sociais devem substituir os sentimentos de compaixão e de amor.
Eu, porém, sou a
caridade, e não posso ficar indiferente, aguardando que cheguem as grandes
providências técnicas enquanto a miséria de toda ordem ceifa as esperanças e as
vidas, promove a violência e o ódio, quando então, será tarde demais...
Por isso, continuo a
minha ronda na noite moral da Terra, pedindo para dar.
Eu sou a caridade...
CÁRITAS
Médium: Divaldo
Pereira Franco
Fonte: Livro
Compromissos de Amor – Divaldo Pereira Franco/Diversos Espíritos – Leal.
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