segunda-feira, 5 de junho de 2017

DIVALDO PEREIRA FRANCO / CÁRITAS - CARIDADE



CARIDADE



Fui convidada a atender o apelo de uma mulher abandonada na sarjeta, à noite, com um filhinho esquálido para alimentar.

O leite desaparecera no seio sem vitalidade e, entre a desolação e o desespero, gritou meu nome, pedindo-me socorro.

Corri, pressurosa, e como nada possuo de mim mesma para oferecer, recorri a um homem que passava, bem posto e perfumado, em companhia de uma jovem muito bonita e vestida com luxo, para que me ajudasse.

Ele pareceu ouvir-me, sorriu, incrédulo, meneou a cabeça, balbuciando, irônico: - Era só o que me faltava...

Corri na direção de um templo religioso, repleto de fiéis em pleno culto. Todos ouviam palavras de alento e de esclarecimento, muitas vezes a citação do meu nome.

Esperei que fosse encerrado o ato de fé e acerquei-me de um cavalheiro forte e saudável, transmiti-lhe o apelo em favor da infeliz sofredora, que se encontrava próximo dali.

Ele percebeu-me, mas olhou o relógio, recordou-se de um compromisso afetivo, refez a aparência e seguiu indiferente.

Acerquei-me do pastor brilhante que proferira as belas palavras, e transmiti-lhe o meu pedido de socorro, projetando-lhe  na tela mental a cena da irmã miserável e do seu filho esfaimado, aguardando ajuda.

Ele entendeu-me a solicitação, reflexionou e concluiu que não era possível atender a todos os infelizes que havia nas ruas do mundo, pois que essa é a função social do governo, logo encaminhando-se, insensível, na direção de um grupo risonho que comemorava anedotário vulgar.

Eu lhe pedira ajuda somente para aquela mulher e seu filho, não para todos os miseráveis do mundo!...

Não desisti do meu objetivo e segui procurando amparo.

Convoquei, quantos fui encontrando na minha busca, sendo rechaçada em todos os tentames.

A noite avançava e uma tormenta estava prestes a desabar.

Aflita, orei, quando, então, na rua deserta vi uma figura solitária sobraçando embrulhos de alimentos, que caminhava com vagar.

Tratava-se de uma servidora doméstica de retorno ao lar, após um dia especial e exaustiva atividade. Encontrava-se cansada e triste. Carregava o que conseguira comprar com o resultado do trabalho, para atender os filhinhos que a aguardavam esfaimados àquela hora...

Captei-lhe os sentimentos bons e, aproximando-me, falei-lhe docemente: - Eu sou a caridade. Venho pedir-te ajuda para alguém mais necessitado do que tu.

Ela ouviu-me, e, receptiva, seguiu-me ao lugar sombrio onde se acolhiam os dois padecentes, sem forças, tremendo de fome e de desespero.

Tomada de sincera compaixão, e solidária, compreendeu a gravidade da ocorrência. Distendeu, resoluta o braço vazio em direção à debilitada, que mal sustentava o filhinho, convidou-a a seguir na direção do seu lar, onde os acolheu, alimentando-os ao lado dos seus, auxiliando-os a sair da penúria e da morte...

Eu sei que a vida na Terra está muito complicada, que os sofrimentos se multiplicaram e que as técnicas sociais devem substituir os sentimentos de compaixão e de amor.

Eu, porém, sou a caridade, e não posso ficar indiferente, aguardando que cheguem as grandes providências técnicas enquanto a miséria de toda ordem ceifa as esperanças e as vidas, promove a violência e o ódio, quando então, será tarde demais...

Por isso, continuo a minha ronda na noite moral da Terra, pedindo para dar.

Eu sou a caridade...


CÁRITAS


Médium: Divaldo Pereira Franco


Fonte: Livro Compromissos de Amor – Divaldo Pereira Franco/Diversos Espíritos – Leal.

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