FUGIR DO MAL
“E murmuravam os fariseus e os escribas,
dizendo: Este recebe pecadores e come com eles”.
— Lucas - Cap. 15, v. 2.
Com a ideia de pecado mortal e de inferno eterno seria difícil,
senão impossível, o pecador regenerar-se. Todas as portas se fechariam para
ele; a misericórdia, neste sentido, não existiria; a bondade de Deus se
tornaria um mito, no campo da terra, para os sofredores, que se esforçam,
sofrem, lutam, querendo aprender uma lição mais edificante. Estariam bloqueadas
todas as oportunidades para o soerguimento; a última coisa que poderiam fazer seria
morrer, mesmo assim, sem honra. Até seus corpos seriam relegados ao
esquecimento, fardos imprestáveis atirados aos corvos famélicos da putrefação.
E a alma? Para onde iria? Ficaria vagando no espaço cósmico,
procurando, aqui e ali, alguém que tivesse compaixão de seus dissabores;
encontrar esse alguém, onde? Só se fosses nas mesmas condições. Estaria mesmo
no inferno? Parece que sim. Desinquietar-se-ia seu coração, com essa ideia já
plasmada nas suas fibras mais íntimas, só pensando mesmo no inferno eterno, no
sofrimento sem remissão. De vez em quando, ergueria a mente, e gritaria, no
vazio da vida: meu Deus, será que estou mesmo perdido, eternamente?
O tempo passa, o espírito se transforma, a luz bafeja seu
torturado coração, que é assistido. Sente Deus e conhece a luz; nota que alguém
lhe concede ajuda, vê esses espíritos. Mais tarde, candidata-se ao serviço de
socorro, em amparo a outros irmãos que também sofrem nas regiões purgatoriais,
como ele havia sofrido. Anseia voltar à terra para anunciar a não existência do
inferno eterno, no sentido da permanência eterna das almas.
Vimos, meus irmãos, como uma só ideia errônea faz almas
sofrerem. Vemos quanto o Cristo libertou os espíritos da dúvida, da mentira e
do medo, rasgando, para toda a humanidade, horizontes de alegria e esperanças. Quiseram interceptar a mensagem de Jesus, sem resultado; ela vara os séculos e
alcança seu objetivo, de transformar o homem em super-homem, e este em anjo.
E isso está se processando na consciência de todos, embora
poucos tenham consciência disso, pois constitui aquisição espiritual, e não
estatutos forjados pelas mãos dos homens.
A idéia de Deus é a verdade, só ela ficará de pé. Jesus, na
sua grandiosa mensagem ao mundo, já dissera que veio para os oprimidos, para os
sofredores, para os cansados, para achar quem está perdido, para anunciar a boa
nova de Deus. E ainda profetizou a vinda de outro consolador que, em seu nome,
relembraria tudo o que Ele tinha dito, e ainda muito mais. Esse consolador
daria continuidade, como espírito da verdade, à mesma doutrina de perdão e de
amor; daria um traço de união entre todas as religiões do mundo, pela força da
caridade, e se faria conhecido como cumprimento do anunciado pelo Cristo, pelo
amor despertado nos corações, de uns para com os outros.
O consolador veio propagar, com toda segurança, que ninguém
morre, que a vida continua em toda parte, dando provas disso, pelos fatos. Ele
anunciou, em nome de Jesus, que não existe eternidade dos sofrimentos, nos
caminhos da alma; que as dores são condições evolutivas de todos. Ele veio
anunciar a todas as almas, encarnadas e desencarnadas, que todos temos
oportunidades de ser úteis, na grande vinha de Deus, sem distinção de valores,
mas visando somente o que cada um pode dar. Desapareceu com ele o pecado
mortal, e todos têm oportunidades de regenerar-se; graças a ele, o Espiritismo,
as bênçãos de Jesus atingiram, com maior calor, toda a humanidade, com a
promessa de com ela permanecer até à consumação dos séculos.
Quando o Mestre estava pregando, aproximavam-se dele todos os
publicanos e pecadores, para ouvi-lo; e Jesus não agiu qual os escribas e
fariseus, escorraçando-os; abraçou-os, comeu com eles e ensinou a todos, com
paciência e amor. E entre dois ladrões, no topo do calvário, desprendeu-se para
a luz imortal.
Partiu, concitando-nos, não a fugir do mal, mas a convertê-lo
no bem. Partiu, convidando-nos, não a amaldiçoar a preguiça, mas a transformá-la
em trabalho. Partiu, impulsionando-nos, não a julgar os que erram, mas a ensiná-los
a acertar, pelo exemplo. Partiu, advertindo-nos de que não devemos ser
influenciados pelos ambientes de ódio, mas deixá-los, em silêncio, impregnando
esses lugares de amor. Partiu, abrindo nossa visão para sabermos que os
pecadores não estão perdidos, e sim, precisando da força do nosso exemplo cristão,
para se regenerarem. Partiu, ensinando- nos que, mesmo na última hora, de
despedida do mundo, há oportunidade de se salvar alguém. Se assim acontecer
convosco, fazei-o com segurança, porquanto, mesmo na cruz da redenção. Jesus
encontrou forças para regenerar a Dimas.
Se, por acaso, fordes procurados pelos pecadores, não
desdenheis suas presenças. Procurai dar o melhor de vós para esses irmãos e, se
possível for, comei também com eles, porque, muitas vezes, pela comida, as bênçãos
de Deus podem atingir-lhes os corações. Fugir do mal não é o plano de Jesus; a
idéia do Mestre é transformá-lo no bem. Se alguém vos vir com pecadores, e
murmurar, lembrai-vos deste texto de luz:
“E murmuravam os fariseus e os escribas,
dizendo: Este recebe pecadores e come com eles”.
— Lucas - Cap. 15, v. 2.
MIRAMEZ
Médium: João Nunes Maia
Fonte: Livro: Alguns Ângulos dos Ensinos do Mestre – João Nunes
Maia/Miramez.
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