quinta-feira, 9 de julho de 2015

CÉLIA XAVIER DE CAMARGO - LIMPEZA MENTAL / TEMPO PERDIDO


  

LIMPEZA MENTAL


Os pensamentos maus e negativos envenenam a alma. É como se guardássemos lixo dentro da mente.

Se mantivermos uma lata de lixo dentro de casa, o que vai acontecer? Logo estará cheia de vermes, micróbios, bactérias, moscas e todo tipo de insetos indesejáveis.

O que é preciso fazer, então?

Devemos fazer o que toda dona de casa faz:  tirar o lixo, colocando-o na rua, em sacos plásticos bem fechados, onde o lixeiro poderá levá-lo embora.

Em nosso lar cuidamos da higiene mantendo a casa limpa e em ordem. Fazemos a mesma coisa com o corpo que Deus nos deu para viver: tomamos banho todos os dias, colocamos roupas limpas e bem passadas, escovamos os dentes, penteamos os cabelos. Assim ficamos com boa aparência e nos sentimos bem. Mas não é só da limpeza exterior que precisamos cuidar. Da mesma forma devemos agir com nosso interior, mantendo-o limpo e bem arrumado. E como fazemos isso?

Não guardando sentimentos de mágoas ou rancor, procurando desculpar se alguém nos ofendeu, esquecendo a agressão. Procurando não sentir inveja de ninguém, sabendo que cada um de nós recebeu de Deus o melhor. Evitando falar mal dos outros e não julgando as atitudes alheias, uma vez que não sabemos o que está acontecendo. Não brigando com os amigos, procurando manter no grupo um ambiente sadio de paz e amizade entre todos. Sobretudo, cultivando sempre pensamentos elevados, que trazem boa disposição e otimismo, fraternidade e alegria de viver.

Lembremos de Jesus, que nos ensinava amar aos outros como a nós mesmos. Assim, teremos uma vida boa e saudável, tanto física quanto mentalmente.


                            CÉLIA XAVIER DE CAMARGO


Fonte: Jornal: O IMORTAL – Março/2000.




TEMPO PERDIDO


Certo Homem era marceneiro de profissão e possuía extraordinária facilidade para trabalhar com a madeira. Era um verdadeiro mestre em seu Ofício e todos admiravam seus trabalhos.

Esse homem tinha um sonho.

Desejava esculpir na madeira uma imagem de Jesus, a quem ele amava profundamente, em tamanho natural.

Conversando com um amigo, o marceneiro, falou do sonho que acalentava em seu íntimo e o companheiro incentivou-o.

- Então, por que você não começa? Com seu talento e habilidade nas mãos, tenho certeza que a escultura será uma obra prima!

Ao que o marceneiro aduzia:

- Ah! Meu amigo! Desejo não me falta. Contudo o trabalho deverá ser perfeito e ainda não resolvi qual a madeira que irei utilizar.

Sempre em dúvida, o artesão deixava o tempo passar. Uma madeira porque era muito rija, a outra porque não era resistente o suficiente; outra porque não era resistente o suficiente; outra era macia e de fácil manejo, porém a tonalidade não o agradava.

E assim o tempo passava e o marceneiro não se dava conta.

Alguns anos depois reencontrou o amigo. Retornara à cidade e,  curioso, perguntou sobre a obra.

- Já resolvi o tipo de madeira que irei trabalhar. Entretanto, ainda não iniciei porque não estou nas melhores condições íntimas. Creio que para esculpir a figura do Mestre preciso estar bem comigo mesmo e com o mundo. Sabe como é, os fregueses exigem muito da minha atenção e não raro me irrito, perdendo a paciência. Além disso, não podendo dispensar o serviço da marcenaria, onde ganho o sustento para a minha família, só posso dedicar-me ao sonho acalentado pela minha alma nos momentos de folga. E aí, grande parte das vezes sinto-me exausto e sonolento. Contudo, - completava tentando aparentar entusiasmo – pretendo começar minha obra prima dentro em breve.

Algum tempo depois reencontraram-se novamente e questionado pelo amigo que demonstrava seu interesse pelo assunto, o artesão argumentava:

- Infelizmente, ainda não iniciei o trabalho porque as condições não permitem. A família exige muito da minha atenção e os filhos requisitam meus carinhos. Você compreende, ainda são pequenos e dependentes. Contudo assim que crescerem mais um pouco, poderei trabalhar em paz.

E assim o tempo foi passando. Muitos anos depois, em visita à cidade, o amigo foi procurar o marceneiro. Encontrou-o velho e doente.

Após os comprimentos e a troca de notícias, felizes com o reencontro, o visitante interrogou, curioso:

- E aí? Estou ansioso para ver o trabalho que tanto desejava executar. Com certeza deve ter ficado soberbo!

Os olhos do marceneiro se apagaram e uma tristeza infinita  vibrou e sua voz já trêmula pela idade:

- Ah, meu amigo! Infelizmente nem cheguei a iniciar o trabalho que representava o sonho de toda uma vida. As dificuldades foram muito grandes e a necessidade de prover o sustento da família me absorveu. Agora, encontro-me doente e sem forças. Minha vista está fraca e já não enxergo como antes, e as mãos, trêmulas, não permitem mais trabalhar.

Penalizado, o visitante amigo viu-o puxar um lenço para enxugar as lágrimas, cheio de arrependimento e de amargura.

- É tarde, meu amigo. Tive todas as condições e não soube aproveitar. Perdi a oportunidade que o Senhor me concedeu.

Tentando animá-lo, o visitante considerou:

- Quem sabe? Não desanime. Talvez ainda seja possível.

O marceneiro fitou o amigo, demonstrando que compreendia toda a extensão de sua inutilidade e da sua cegueira, respondendo convicto:

- Não. Agora, só se for em outra existência.


CÉLIA XAVIER DE CAMARGO
 
Fonte: Jornal: “O IMORTAL”.


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