sexta-feira, 24 de abril de 2015

CAMILLE FLAMMARION - A PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS / A VOZ DO INFINITO / TEXTO: A CASA MAL ASSOMBRADA


CAMILLE FLAMMARION (Nicolas Camille Flammarion) - Notável astrônomo, escritor  e espírita francês, fundador da Sociedade Astronômica da França - 1842-1925.

A PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS:

♥“Todo esse universo visível", dizia Lucrécio, há dois mil anos atrás, "não é o único na natureza, e devemos crer que haja, em outras regiões do espaço, outras terras, outros seres e outros homens.

♥Ah! Se nossa vista fosse penetrante o bastante para descobrir, ali onde só distinguimos pontos brilhantes no fundo negro do céu, os sóis resplandecentes que gravitam pelo espaço e os mundos habitados que os seguem em seu curso, se nos fosse dado abranger num relance geral esses milhares de sistemas-solidários, e se nós, avançando com a velocidade da luz, atravessássemos durante séculos de séculos esse número ilimitado de sóis e de esferas, sem nunca encontrar fim para esta imensidão prodigiosa onde a Natureza fez germinar os mundos e os seres; voltando nossos olhares para trás, mas não sabendo em que ponto do infinito encontrar esse grão de poeira que se chama de Terra, nos deteríamos fascinados e confundidos por um tal espetáculo, e unindo nossa voz ao concerto da natureza universal, diríamos do fundo de nossa alma: Deus todo-poderoso! Como fomos insensatos ao crer que não há nada além da Terra, e que nossa pobre morada tenha, só ela, o privilégio de refletir tua grandeza e teu poder!

♥A Pluralidade dos Mundos é uma doutrina verdadeira, pois os gênios ilustres de todas as eras e, mais que isto, as grandes vozes da Natureza, ensinaram-na e proclamaram-na. Ela é uma doutrina admirável, pois o sopro da vida que ela propaga sobre o Universo transforma a aparente solidão e povoa os espaços com os esplendores da vida. 

♥Se a Terra fosse o único mundo habitado no passado, presente e futuro; se fosse a única natureza, a única habitação da vida, a única manifestação do Poder criador; seria um fato incompatível com o esplendor eterno, ter formado, como obra única, um mundo inferior, miserável e imperfeito. Aquele que acredita na existência de um só mundo, portanto, é inevitavelmente conduzido a essa monstruosa conclusão de que as divinas hipóstases, eternamente inativas até o dia da criação terrestre, se manifestaram tão-somente pela criação de uma sombra, e que toda a efusão de seu poder infinito não teve como resultado senão a produção de um grão de poeira animada.

♥Beleza eterna, não engendrada e imperecível, isenta de decadência como de crescimento, que não é bela em uma parte e feia em outro, bela somente em tal tempo, em tal lugar, em tal relação; bela para esses, feia para aqueles; beleza que não tem forma sensível, um rosto, mãos, nada de corporal; que também não é tal pensamento ou tal ciência em particular, que não reside em nenhum ser diferente dela mesma, como um animal, ou a terra, ou o céu, que é absolutamente idêntica e invariável por si mesma, da qual todas as outras belezas participam, de maneira contudo que seu nascimento ou sua destruição não lhe acarrete nem diminuição, nem crescimento, nem a menor mudança. Para chegar a ti, beleza perfeita, é preciso começar pelas belezas de aqui embaixo, e, os olhos fitos na beleza suprema, elevar-se sem cessar, passando, por assim dizer, por todos os graus da escala, até que, de conhecimentos em conhecimentos, se chegue ao conhecimento por excelência, que não tem outro fim que não o próprio belo, e que se acaba conhecendo tal como é em si...

♥De onde vem ao meu espírito esta impressão tão pura da verdade? De onde lhe vêm essas regras imutáveis que orientam o raciocínio, que formam os costumes, pelas quais ele descobre as proporções secretas das figuras e dos movimentos? De onde lhe vêm, numa palavra, essas verdades eternas que tanto tenho examinado? São os triângulos e os quadrados e os círculos que traço grosseiramente no papel que imprimem em meu espírito suas proporções e relações? Ou será que há outros cuja perfeita exatidão causa esse efeito?... Em qualquer parte, ou no mundo, ou fora do mundo, os triângulos ou os círculos subsistem nessa perfeita regularidade, de onde ela seria impressa em meu espírito? E as regras do raciocínio e dos costumes subsistem também em qualquer parte, de onde elas me comunicam sua verdade imutável? Ou não seria antes que Aquele que espalhou por toda à parte a medida, a proporção, a própria verdade, imprime em meu espírito a idéia certa?... É certo que Deus é a razão primitiva de tudo o que existe e de tudo o que se entende no Universo; que ele é a verdade original, e que tudo é verdadeiro por ligação com sua verdade eterna, que buscando a verdade nós o encontramos, e que encontrando-a nós o encontramos.

♥O noite majestosa! como teu esplendor é ainda maior ante nossos olhos desde que entrevimos a vida sob tua morte aparente! Como tuas harmonias se tornaram deliciosas! Como teu espetáculo se transfigurou diante de nossas almas! Outrora, eu me comprazi em vos contemplar no silêncio da meia-noite, ó Plêiades longínquas cuja claridade difusa nos leva para tão longe da Terra! Eu me comprazi em ver repousar sobre vós o enxame de meus pensamentos, porque vós sois uma estação brilhante do infinito dos céus. Mas hoje, que vejo em vossa múltipla irradiação tantos lares onde famílias humanas estão reunidas; hoje que nessa irradiação tão calma eu creio reconhecer os olhares de irmãos desconhecidos, o olhar talvez de seres queridos que amei tanto, e que a Morte inexorável levou para longe de mim, desse ser, sobretudo, que se foi com um sorriso nos lábios para não me deixar adivinhar seus sofrimentos, e que agora está aí, sonhando talvez ainda em algum ponto obscuro de uma terra desconhecida, lembrando com uma tristeza inexplicável nossos amores destruídos, e procurando como eu por olhares perdidos no céu... Oh! Agora eu vos amo, deslumbrantes Plêiades; eu vos amo, maravilhosas Estrelas; eu vos amo como o peregrino ama as cidades de sua peregrinação, como ele ama o altar aonde se dirigem seus votos, e onde depositará um dia o beijo de suas aspirações mais caras.

♥Toda crença, para ser verdadeira, deve concordar com os fatos da natureza. O espetáculo do mundo nos ensina que a imortalidade de amanhã é aquela de ontem e de hoje, que a eternidade futura não é senão a eternidade presente; eis aí nossa fé. Nosso paraíso, é o infinito dos mundos.

♥Virá o tempo em que todas as mentes instruídas e independentes saberão libertar-se dos preconceitos que pesam ainda sobre nossas cabeças e confessarão, com o acento de uma convicção inabalável, a doutrina da Pluralidade dos Mundos, mas hoje, grandes dificuldades de escolas ou seitas ainda se opõem. São estes preconceitos que cabe à filosofia dissipar. É deles que se deve libertar as almas adormecidas. E não se trata de uma missão tão rude nem penosa quanto nos séculos passados, pois o progresso intelectual propagou por todo lugar sua claridade benfazeja. 

♥A Terra foi pois criada para o homem, a matéria para a vida, e onde quer que vejamos outra terra, somos forçados a convir que ela foi, como a nossa, criada para a raça intelectual e imortal. 

♥Quando o Senhor Jesus fala do aprisco do qual é a porta, da ovelha que o segue e que conhece sua voz, e pela qual dá sua vida, acrescenta: "Tenho ainda outras ovelhas que não são deste rebanho; é preciso que eu também as conduza; elas escutarão minha voz, e haverá um só rebanho e um só Pastor."

♥As humanidades dos outros mundos e a humanidade da Terra são uma só humanidade. 

♥O homem é o cidadão do céu. 

Fonte de Pesquisa: Livro: A Pluralidade dos Mundos Habitados - Camille Flammarion - FEB.



A VOZ DO INFINITO:

Através do universo visível, nosso espírito deve sentir a presença do universo invisível, sobre o qual estamos colocados. Tudo o que vemos não passa de aparência: o real é o invisível, a força, a energia, o que tudo leva para o infinito e o eterno. 
Pouco importa que o corpo desagregue depois da morte. A alma permanece. 
Na noite profunda e silenciosa tudo se move impulsionado pelo sopro divino. Nessas horas de tranqüilo recolhimento, não ouvis a voz do infinito? 

Fonte: Antologia do Pensamento Mundial – Primeira Série – Livraria e Editora Logos Ltda. 



TEXTO: A CASA MAL ASSOMBRADA:

Na ocasião em que era aluno do Observatório, Camille Flammarion voltava para o lar paterno, diariamente, atravessando sempre a rua das Nogueiras. Havia nela uma casa apontada como mal-assombrada e ferviam os comentários a respeito. No Jornal “O Direito” de julho de 1860, vinha o relato dos fenômenos, sob a epígrafe: “Cena de feitiçaria no século 19”.
As zombarias no Observatório eram intermináveis.  
- Quem, se não alguns pobres tolos, poderá acreditar em assombrações? – diziam.
- E por que não? – perguntava Flammarion, imprevistamente.
- Trata-se de uma coisa irreal.
- E o que é real?
- Real é o que é objetivo, exterior a nós.
- Ah, sim? Então onde está a realidade do arco-íris, que é visto, medido, analisado, fotografado? Entretanto, qualquer um sabe que o arco-íris é apenas um fenômeno de óptica. Meu vizinho vê um arco-íris diferente do meu; o olho esquerdo não vê o mesmo que o direito... Onde está, então, a realidade do arco-íris?
- Ora, não misture arco-íris com assombrações!
- É apenas para argumentar.
- E então?
- Esses fenômenos das casas mal-assombradas, que nos parecem tão extraordinários, não poderiam ter uma causa física? O homem conhece-se a si mesmo? Se o nosso ouvido fosse dotado das propriedades do aparelho receptor de um posto radiotelefônico, perceberíamos vozes do espaço. Se nossos olhos fossem construídos com a placa fotográfica, veríamos as radiações para as quais nosso nervo óptico se conserva insensível. Então, certas forças desconhecidas, como essas que se manifestam em casas mal-assombradas, pareceriam naturais, e teríamos outra compreensão do Universo e da vida.
- Quer dizer que você acredita nessas balelas?
- Só devemos afirmar o que foi rigorosamente observado, mas não é honesto nem razoável recusarmo-nos, seja qual for o pretexto, a reconhecer a realidade evidente.
- Quer dizer que você acredita?
- Que será a eletricidade? Que será o elemento magnético que, partindo do Sol, à distância de 150 milhões de quilômetros, vem movimentar o ponteiro da bússola? Ignoramo-lo na mesma proporção. Que será transmissão ou a telefonia, através dos mares e florestas, podendo ser captada em sua passagem, dentro de um quarto fechado? É um mistério tão grande como o de uma assombração.  
- Então você acredita?  
- Para nós, o mais importante em nossas experiências é descobrir a causa ou causas das realidades observadas. 

Fonte: Grandes Vocações – Flammarion, o Poeta da Astronomia – Ruth Guimarães – Donato Editora.

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