quinta-feira, 1 de setembro de 2011

HUMBERTO LEITE DE ARAÚJO - AS FLORES DE SANTA CLARA DE ASSIS


 
AS FLORES DE SANTA CLARA DE ASSIS:
 
Santa Clara não perdia oportunidade para estar perto de São Francisco. Muitas vezes saíam juntos para socorrer os menos afortunados.
Numa de suas andanças, chegaram, certa feita, a uma encruzilhada perto de São Damião, onde Clara residia com suas virgens. E disse Francisco:
- Convém que nos separemos.
O frio era intenso. A neve caía.
Clara olhou suavemente para Francisco que mantinha seu olhar no infinito, como que mergulhado profundamente em sua renúncia.
Para ele, renúncia era alargamento, expansão do amor em sua plenitude. Com essa compreensão, de renúncia, jamais alimentaria em seu coração os estreitos limites da carne. Estavam ali dois verdadeiros heróis do sacrifício.
A virgem de Assis, fortalecida pelos mesmos pensamentos, prostrou-se de joelhos, humildemente na neve, exprimindo a sua devoção e veneração ao Santo e aguardou que ele a abençoasse.
Silêncio. Expectativa.
O coração da virgem palpitava. O Santo a abençoou; e ela, com um largo sorriso e com voz trêmula de emoção perguntou:
- Pai, quando nos tornaremos a ver?
- Quando florirem as rosas – respondeu Francisco, comovido diante de tanta humildade.
Clarinha deu alguns passos e, sentindo um frêmito em seu corpo, voltou-se e exclamou:
“Meu pai”!
Francisco, que já ensaiava seu regresso e estava a uns poucos passos da virgem, parou e se extasiou diante de estranho e maravilhoso fenômeno que sua vidência registrava.
Sua alma gêmea estava envolta em rosas e, em torno dela, a grama e plantinhas rasteiras se transformaram num multicolorido roseiral de corolas inundadas de luz.
A luz do Cristo inundava aqueles dois seres e já não eram mais duas personalidades de carne e osso. O Cristo os transformou em arautos de Sua Vontade, pois um e outro entregaram ao Senhor a direção do seu livre arbítrio.
Clara obteve a resposta naquele instante supremo, o pensamento dos dois era um só: “Convém que nos separemos. Pai, quando nos tornaremos a ver? Quando florirem as rosas!”
Almas gêmeas estão sempre juntas pelo pensamento no amor, na compreensão e no respeito mútuo, na abnegação, na dor e no prazer. 
 
Humberto Leite de Araújo 
 
Fonte: Livro: De Francisco de Assis para Você - Humberto Leite de Araújo. (Trechos)

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