PALAVRAS EDIFICANTES
O estudo das comunicações
espíritas provou-nos, de maneira irrefutável, que a situação da alma, depois da
morte, é regida por uma lei de justiça infalível, segundo a qual os seres se encontram
em condições de existência, que são rigorosamente determinadas por seu grau
evolutivo e pelos esforços que faz para melhorar.
Nossas relações com o Além
ensinaram-nos, ainda, que não existe inferno, nem paraíso, mas que a lei moral
impõe sanções inelutáveis àqueles que a violaram, enquanto reserva a felicidade
aos que se esforçaram por praticar o bem, sob todas as formas.
A bondade e a justiça do
Todo-Poderoso parecem falhas, quando examinamos as inúmeras desigualdades
físicas, morais e intelectuais que existem entre todos os seres, desde seu
nascimento.
Por que, diremos com Allan
Kardec, se o fim que devemos atingir é o mesmo para todos, favoreceria a
Potência Divina certas criaturas, recusando a outras as mesmas faculdades para
que chegassem à felicidade futura? É evidentíssimo que existem entre as raças,
que povoam a Terra, diferenças profundas de mentalidade, e mesmo em cada nação,
desde o nascimento, uma incalculável desigualdade entre todos os indivíduos.
E absolutamente certo que a alma
da criança apresenta, desde tenra idade, aptidões diversas e independentes da
educação. Por que revelam alguns, desde a infância, aptidões para as artes e para
as ciências, enquanto outros ficam medíocres e inferiores toda a vida?
Donde vêm em uns as ideias inatas
ou intuitivas, que não existem em outros?
Como admitir que uma alma nova,
vinda pela primeira vez à Terra, já esteja gafada de
vícios e demonstre irresistíveis propensões para o crime, enquanto outras,
ainda que em meios inferiores, possuam sentimentos perfeitos de dignidade e
doçura?
Qual será a sorte das crianças
mortas em pouca idade, e por que cria a Potência Infinita almas que devem
habitar corpos de idiotas e de cretinos, sem utilidade social?
É claro que a educação é
impotente para dar aos homens as faculdades que lhes fazem falta, e ela
desenvolve, apenas, as que eles trazem do berço.
Se a nossa eternidade futura
depende de uma só passagem aqui (o que não passa de um segundo na imensidade do
tempo), por que Deus, eterno, infinito, onisciente, para quem não existe passado
nem futuro, sabendo a sorte que está
reservada a cada criatura, dá-lhe a existência?
Estamos com o direito de
perguntar por que cria ele estes monstros, cuja vida é uma
série de crimes, e que devem ser castigados com suplícios sem-fim.
Assim, também sabendo o que deve
suceder a cada um de nós, porque favorecerá a uns, à custa dos outros, o que é
contrário, ao mesmo tempo, à bondade e à justiça de quem Jesus chamou Pai
celestial, e cujo amor se deve estender a todos os
que saem dele?
Quando uma doutrina filosófica ou
um dogma religioso conduz a tais inconsequências, pode-se assegurar que esse
dogma ou essa doutrina são erros manifestos, e temos o direito de procurar uma explicação
melhor para essas aparentes anomalias. Desde, então, a explicação pelas vidas sucessivas
adquire um valor incontestável, pois que oferece uma solução racional a todos
os problemas que, sem ela, permaneceriam insolúveis.
De fato, se admitirmos que o
nascimento atual é precedido por uma série de existências anteriores, tudo se
esclarece e se explica facilmente.
Os homens trazem, ao nascer, a
intuição daquilo que já adquiriram, e são mais ou menos adiantados, segundo o
número de existências que percorreram. Sendo contínua a criação, existem em uma
sociedade, ao mesmo tempo, seres cuja idade espiritual difere consideravelmente.
Dai provêm as desigualdades morais e intelectuais que as diversificam.
Podemos, pois, dizer com Allan
Kardec: Deus, em sua justiça, não podia criar almas mais ou menos perfeitas; mas,
com a pluralidade das existências, a desigualdade que vemos nada tem de
contrário à mais rigorosa equidade; ë que nós encaramos o presente e não o passado.
Este raciocínio repousa em um
sistema, uma suposição gratuita?
Não. Partimos de um fato patente,
incontestável, a desigualdade das aptidões e do desenvolvimento intelectual e
moral, e achamos esse fato inexplicável por todas as teorias em curso, enquanto
a sua explicação é simples, natural, lógica, por uma outra teoria. racional
preferir a que não explica, àquela que explica?
Se as almas devem passar por
todas as situações sociais e por todas as condições
físicas para desenvolver-se moral e intelectualmente, as desigualdades de toda
a natureza, que se verificam entre os seres, compensam-se na série das vidas
sucessivas. Cada qual, há seu tempo, ocupará todos os degraus da escala social,
o que cria uma perfeita igualdade nas condições do desenvolvimento dos seres;
em virtude da lei de justiça, todos se encontram na condição social que melhor
convém ao seu progresso individual, porque todo renascimento é condicionado
pelas consequências das vidas anteriores.
GABRIEL DELLANE
Fonte: Livro: A Reencarnação –
Gabriel Dellane