segunda-feira, 2 de setembro de 2024

LÉON DENS - RECORDAÇÕES DO PASSADO

 

RECORDAÇÕES DO PASSADO

   

Já vimos como e – por que – se perde, na ocasião do nascimento, a memória do passado. Esse eclipse parcial e momentâneo das existências anteriores é absolutamente necessário para conservarmos intacta, aqui, em nosso mundo, a liberdade. Se delas nos recordássemos com muita facilidade, haveria confusão na ordem lógica e fatal do destino; e o Mestre disse em seu Evangelho: “Infeliz daquele que, tendo posto a mão na charrua, olhar para trás.”

Traçar um sulco firme e seguro, exige olhar para diante e fixar unicamente o futuro.

A obliteração do passado, entretanto, não é, nem absoluta, nem definitiva. O perispírito, que registrou todos os conhecimentos, todas as sensações, todos os atos, acorda; sob a influência do hipnotismo, as vozes profundas do passado se fazem ouvir. Assemelhamo-nos às árvores milenárias das florestas. Seus lustros e decênios estão inscritos nos círculos concêntricos da casca secular; assim, cada idade de nossas existências sucessivas deixa uma zona inalterável sobre o perispírito, que retraça fielmente os matizes mais imperceptíveis do passado e os atos mais aparentemente apagados da vida mental e de nossa consciência.

Mas é notadamente à hora da morte que o perspírito, prestes a desprender-se, sente despertar na memória as visões adormecidas das existências transatas. Atesta-o a experiência de cada dia.

Por um médico amigo, ouvimos dizer que, em sua mocidade, estando a ponto de afogar-se, no momento em que começava a asfixia todos os quadros de sua vida se desenrolaram no pensamento em sucessão retrógrada, com pormenores, e acompanhados de sensação de bem ou de mal, em cada um dos atos de sua vida inteira.

Era o julgamento espiritual que começava. Esse julgamento, sabe-se, não é mais que o balanço instantâneo da consciência, que faz pronunciemos, nós mesmos, o veredicto que nos fixa a sorte no novo mundo onde vamos ingressar.

Agora que conhecemos a lei da existência e a doutrina científica da encarnação, ser-nos-á mais fácil compreender as vicissitudes da viagem terrestre, as idades pelas quais passamos e o papel que cada degrau da vida humana vem ter na economia harmoniosa do seu conjunto. Aparecer-nos-ão, assim, a adolescência, a idade madura e a velhice sob o verdadeiro aspecto; debaixo dessa luz elevada do Espiritualismo, saberemos melhor apreciar e compreender. Morrer para reviver, reviver para morrer e para viver ainda, tal é a lei única e universal.     

 

LÉON DENIS

 

Livro: O Grande Enigma – Léon  Denis  

Nenhum comentário:

Postar um comentário