REMINISCÊNCIAS
De
quando
em quando
ressurgem-me
na memória
lembranças
de outras
vidas, como em vasos
que contiveram essências,
servindo a outras posteriormente,
aparece, por
vezes, o aroma
das primitivas.
Se
a saudade é vestigio do
que foi, essas recordações que se levantam
em nós são como poeira de caminhos
percorridos.
E
quem não a traz em si? Quem
não sente, de vez em quando,
reminiscências de um passado, que não é
o mesmo de onde viemos pelos anos atuais,
mas muito mais remoto, um passado
d'além do evo em que transitamos?
Essas
saudades não jazem no coração, são livres, voam em volta de nós
como as nuvens no espaço.
Quem
nos diz que elas não são o que já fomos, como as nuvens já foram
rios, pântanos, oceanos?
Quem
nos afirma que não são lembranças de eras transcorridas, sobre as
quais adormecemos quando nos soou a hora noturna, acordando com a
madrugada para viver, de novo, ao sol e, de novo,
dormir?
Se
me recordo do que fui outrora é natural que,
mais tarde, me lembre do que
sou.
E
os dias passarão continuamente e eu voltarei com eles como os
minutos voltam com as horas, as horas com os dias, os dias com as
semanas, as semanas com os meses, os meses com os anos, os anos com
os séculos, enquanto girarem na Eternidade, que é o mostrador do
Tempo, infinito, impassível, parado, espelhando a Vida,
que é o movimento.
COELHO
NETO
Fonte:
Livro: A Vida Além da Morte – Coelho Neto – Conferências
realizadas no Abrigo Thereza de Jesus, no dia 14 de setembro de 1924.
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