sexta-feira, 22 de junho de 2018

FRANCISCO LUCIANO / ISMAEL - PURO COMO UM LÍRIO


PURO COMO UM LÍRIO





- Quando Jesus esteve entre os homens, eu era um pobre mercador judeu, tinha duas filhas e morava numa rua estreita de Jerusalém. Todos que me conheciam costumavam falar da minha tristeza. Eu estava sempre triste. Viajava constantemente, e aqueles com os quais entretinha negociações perguntavam se nada podiam fazer em meu favor para livrar-me daquela tristeza que fazia meu semblante duro, meus olhos cruéis, minhas palavras sem expressão. Eu perdera a esposa quando minhas filhas eram pequenas. Dediquei-me a elas com todo o carinho e amor. Um dia, voltando de uma viagem, achei-as enfermas. Pobres filhas! A lepra as prendera, fortemente, em suas garras terríveis. Chorei, chorei tanto, tanto!... Um dia, voltando de muito longe e sem acreditar em nada, pensava no Nazareno, do qual me haviam falado algumas vezes. Ele era bom, curava, era misericordioso. Surgiu-me um leve pensamento de levar minhas filhas à sua presença, porém, logo se desvaneceu a ideia. Eu levava alguns presentes para minhas filhas, mas, sabia que, como sempre, elas não poderiam ficar alegres; resolvi dá-los a quem encontrasse, no caminho, demonstrando grande pobreza.

Quando cheguei à casa, ainda não me aproximara muito da porta, ouvi alguém cantar. A voz saía de dentro de minha casa; era de uma de minhas filhas. Depois, ouvi outra voz; as duas cantavam juntas. Espantado, apressei-me em entrar e deparei com minhas filhas, alegres, felizes, completamente curadas; correram para mim e abraçaram-me. Quando me refiz da emoção, depois de enxugar as lágrimas e gaguejando ainda, indaguei:

- O que aconteceu?

- Ele passou por esta rua – disse uma de minhas filhas.

- Ele? Ele quem? – perguntei, ansioso.

- O Nazareno – respondeu a outra. – Nós ouvimos a multidão fazer um grande alarido e curiosa chegamos à janela e espiamos.  Todos gritaram: as leprosas! as leprosas!  Cuidado, fujam! Calaram-se e afastaram-se. Jesus aproximou-se da janela e disse:

- “Abram-me a porta.”

Quando Ele falou assim, e Seus olhos penetraram nos nossos, era como se Ele dissesse: abram-me seus corações. Fomos até a porta, abrimos; Ele fez sinal para que nos aproximássemos d’Ele. Tínhamos medo da multidão. Ele percebeu e animou-nos. Estava a pouca distância; fomos para mais perto. Ele segurou-nos as mãos e sorriu-nos com doçura, com uma infinita doçura. Todos se aproximaram outra vez e murmuravam uns para os outros; elas estão curadas! elas estão curadas! Nós sabíamos que estávamos curadas. Aqueles olhos nos faziam tão felizes, tão felizes!

- “Alegrem-se – disse-nos Ele – em Deus, Ele é o doador de todas as graças, alegrem-se em Deus. “

E afastou-se com a multidão. Ouvimos Ele dizer:

- “Em verdade, em verdade os que têm a lepra na alma são os mais infelizes; esses guardam consigo todo o horror das suas vidas viciadas. Em verdade, em verdade, a lepra do corpo alivia o coração.”

E continuou ensinando. Não ouvimos mais. Entramos felizes e assim, pai, veja, estamos curadas.

- Oh! minhas filhas, - disse eu, com os olhos ainda cheios de lágrimas, - quero vê-Lo, quero beijar-Lhe as mãos. Como é Ele?

Elas sorriram e responderam-me docemente, ao mesmo tempo:

- Ele é puro como um lírio!


ISMAEL


Médium: Francisco Luciano

Fonte: Livro: Páginas Cristãs.

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