PURO COMO UM LÍRIO
- Quando
Jesus esteve entre os homens, eu era um pobre mercador judeu, tinha duas filhas
e morava numa rua estreita de Jerusalém. Todos que me conheciam costumavam
falar da minha tristeza. Eu estava sempre triste. Viajava constantemente, e
aqueles com os quais entretinha negociações perguntavam se nada podiam fazer em
meu favor para livrar-me daquela tristeza que fazia meu semblante duro, meus
olhos cruéis, minhas palavras sem expressão. Eu perdera a esposa quando minhas
filhas eram pequenas. Dediquei-me a elas com todo o carinho e amor. Um dia,
voltando de uma viagem, achei-as enfermas. Pobres filhas! A lepra as prendera,
fortemente, em suas garras terríveis. Chorei, chorei tanto, tanto!... Um dia,
voltando de muito longe e sem acreditar em nada, pensava no Nazareno, do qual
me haviam falado algumas vezes. Ele era bom, curava, era misericordioso.
Surgiu-me um leve pensamento de levar minhas filhas à sua presença, porém, logo
se desvaneceu a ideia. Eu levava alguns presentes para minhas filhas, mas,
sabia que, como sempre, elas não poderiam ficar alegres; resolvi dá-los a quem
encontrasse, no caminho, demonstrando grande pobreza.
Quando
cheguei à casa, ainda não me aproximara muito da porta, ouvi alguém cantar. A
voz saía de dentro de minha casa; era de uma de minhas filhas. Depois, ouvi
outra voz; as duas cantavam juntas. Espantado, apressei-me em entrar e deparei
com minhas filhas, alegres, felizes, completamente curadas; correram para mim e
abraçaram-me. Quando me refiz da emoção, depois de enxugar as lágrimas e
gaguejando ainda, indaguei:
- O que
aconteceu?
- Ele
passou por esta rua – disse uma de minhas filhas.
- Ele?
Ele quem? – perguntei, ansioso.
- O
Nazareno – respondeu a outra. – Nós ouvimos a multidão fazer um grande alarido
e curiosa chegamos à janela e espiamos.
Todos gritaram: as leprosas! as leprosas! Cuidado, fujam! Calaram-se e afastaram-se.
Jesus aproximou-se da janela e disse:
-
“Abram-me a porta.”
Quando
Ele falou assim, e Seus olhos penetraram nos nossos, era como se Ele dissesse:
abram-me seus corações. Fomos até a porta, abrimos; Ele fez sinal para que nos
aproximássemos d’Ele. Tínhamos medo da multidão. Ele percebeu e animou-nos.
Estava a pouca distância; fomos para mais perto. Ele segurou-nos as mãos e
sorriu-nos com doçura, com uma infinita doçura. Todos se aproximaram outra vez
e murmuravam uns para os outros; elas estão curadas! elas estão curadas! Nós
sabíamos que estávamos curadas. Aqueles olhos nos faziam tão felizes, tão
felizes!
-
“Alegrem-se – disse-nos Ele – em Deus, Ele é o doador de todas as graças,
alegrem-se em Deus. “
E
afastou-se com a multidão. Ouvimos Ele dizer:
- “Em
verdade, em verdade os que têm a lepra na alma são os mais infelizes; esses
guardam consigo todo o horror das suas vidas viciadas. Em verdade, em verdade,
a lepra do corpo alivia o coração.”
E
continuou ensinando. Não ouvimos mais. Entramos felizes e assim, pai, veja,
estamos curadas.
- Oh!
minhas filhas, - disse eu, com os olhos ainda cheios de lágrimas, - quero
vê-Lo, quero beijar-Lhe as mãos. Como é Ele?
Elas
sorriram e responderam-me docemente, ao mesmo tempo:
- Ele é
puro como um lírio!
ISMAEL
Médium:
Francisco Luciano
Fonte: Livro:
Páginas Cristãs.
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