RUÍDOS
- Senhor,
o ruído pode impedir a comunicação espiritual? - inquiriu o discípulo.
-
Depende de onde estiver sua mente: se esta presta atenção, não há como se
colocar a comunicação em dia. Mas naturalmente há um nível de barulho do qual
nem todos conseguem livrar-se.
- Mas,
senhor, todo barulho perturba a mente.
- Quando
se está com o pensamento em Deus, o próprio barulho é música de Deus.
-
Entretanto, o barulho pode ser causado por diversos motivos: uma aparelhagem de
som, pancadas de operários trabalhando, o ruído da rua, etc., estas não são
condições agradáveis para o trabalho. Retirados no Himalaia, os mestres
conseguem, com o silêncio, a ambientação necessária para dedicarem-se a Deus.
- No
entanto, alpinistas vão ao Himalaia e apenas conseguem escalá-lo, desistem ou
encontram a morte. Seus guias vivem nas montanhas e não estão mais próximos de
Deus do que outros que vivem em outras regiões. O silêncio do ambiente
naturalmente facilita o trabalho, porém o decisivo é o lugar em que está a
mente: quando ela está situada em coisas materiais, pouco importa o nível de
barulho ou de silêncio que possua, porque ela faz bastante barulho para ocupar
o ser e direcioná-lo.
- Então
não existe ambiente mais propício?
- Estás
tomando posições radicais, o que não é bom para o entendimento de qualquer
questão. Um ambiente favorável sempre ajuda os que iniciam, os que ainda não
obtiveram adiantamento e uma estabilidade suficiente, e também poderá ajudar os
que já se encontram adiantados. Mas não existe desenvolvimento espiritual
apenas porque se tenha conseguido um local silencioso para meditar. Às vezes, a
mente está tão inquieta que não consegue absorver o silêncio e vai à cata de
ruídos quaisquer que sejam para ocupar-se, e, quando os percebe, irrita-se
porque eles o quebraram.
- O
senhor há de convir que o barulho exterior pode perturbar?
- Sem
dúvida, quando o barulho nos perturba, estamos ainda longe de uma identificação
com o Divino.
- O
barulho, todavia, de uma banda de rock deve impedir a meditação.
- Quem o
levou a ouvir uma banda de rock? Podes dizer que ligaram uma aparelhagem de
som, e isto te perturba. Uma música do teu agrado massagearia a mente… Sem
dúvida, estamos ligados a problemas a cada passo, mas, mesmo quando eles
acontecem, é necessário manter a calma para enfrentar tais contratempos. Se te
mantiveres calmo, podes estar certo de que estás em plena meditação, sem que
seja necessário fechar os olhos, deixá-los semicerrados, repetir um mantra,
etc. Quando somos capazes de suportar contratempos, a nossa mente está se
dirigindo para o local certo, estabelecendo uma ligação correta com o Divino.
Dirás que isto não é fácil, mas desconfies sempre das facilidades da vida. As
coisas no nosso planeta não foram feitas para serem fáceis.
- Por
que, senhor, devemos enfrentar tantas dificuldades ainda quando estamos à
procura de Deus?
- Um
garimpeiro diante de um monte de terra ou à beira de um rio há de perguntar a
mesma coisa; é possível que gostasse de ver pepitas de ouro ou pedras de
diamante à mostra, mas se fosse assim fácil, outros antes dele já teriam levado
tudo. Se ele não se dispuser a um esforço contínuo, sem perder a esperança,
nunca achará uma pepita de ouro ou uma pedra de valor. Sabes bem que, antes
disto acontecer, montões de lixo devem ser retirados, muita peneiração deve ser
realizada. Com a pepita nas mãos, entretanto, todo trabalho desenvolvido é
esquecido. O Senhor Jesus disse-nos que onde estivesse o coração aí estaria o
nosso tesouro. A pergunta é sempre a mesma - “onde colocaste o teu coração?” Ao
apaixonar-se por uma mulher, o homem é capaz de todos os sacrifícios para
cortejá-la e manter a paixão sendo correspondida; enquanto mantiver-se neste
estado, o trabalho não será avaliado, ele não sentirá qualquer esforço. Quando
se costuma valorizar muito o esforço despendido em uma tarefa é porque o
objetivo não está sendo valorizado, mas sim o meio: com o tempo, este acabou
tomando o lugar do objetivo. As pessoas vão aos templos e depois apresentam um
inventário das horas que ali passaram. Retiram-se para orações e contabilizam o
tempo em que dizem ter estado em meditação, e assim por diante. Em realidade,
para elas o meio é tudo, e, presas a estes, nunca obtêm o objetivo. Deus deve
ser a única meta. Ao agarrares com firmeza esta idéia, todo trabalho despendido
para alcançar o fim lhe parecerá nenhum. Existe algum esforço realmente grande
que não estejamos resolvidos a fazer quando queremos alcançar a comunhão com a
Divindade?
O mestre
silenciou por um momento e concluiu:
- Em
realidade, uma mente despreparada faz muito mais barulho do que qualquer coisa
neste mundo.
YOGASHRIRISHNAM
Médium: Elzio
Ferreira de Souza
Livro: Espaço,
Tempo e Causalidade- Elzio Ferreira de Souza/Yogashririshnam - Editora
Circulus.
♥♥♥♥♥♥♥
QUEM
SOU EU? E VOCÊ?
“... a linguagem que ele ouve é o amor silencioso”.
Carta n.º 8
João da Cruz
Ninguém
consegue amar a Deus se não faz silêncio dentro de si mesmo. O silêncio mais
importante não é o dos lábios, mas aquele que resulta de calar desejos e
emoções. Enquanto a mente se movimenta no jogo dos interesses, de um lado para
outro, e soa como o marulho das ondas em noite de tempestade, você não pode
ouvir a voz de Deus. Não há nenhum barulho maior que o produzido pela mente.
A mente
é como um animal bravio que arrasta o condutor depois de desmontá-lo. Você pode
julgar-se o senhor, mas ela é realmente quem comanda. Você nunca lhe impôs as
rédeas, sempre achou bonito a maneira com que ela se portava, sem perceber que
sua conduta era resultado do alimento que lhe proporcionava. Com a mente presa
aos sistemas do mundo, alimentando-se de tudo o que vê, ouve, sente, cheira e
degusta, incapaz de usar a capacidade de discriminação para purificar as
informações, não pode dizer que efetivamente sabe pensar ou se apenas reflete a
vida ao redor sem nada de realmente seu.
Como o
animal, a mente depende do cavaleiro. Você não pode permitir que ela o leve
para onde deseje ou seja impressionada por pensamentos que assimile, por ondas
que recepcione, por estados de espírito que registre. Você necessita aprender
que a mente pode ser um instrumento valioso, se a coloca em mãos do Divino.
Para consegui-lo, tem que aprender a silenciá-la, e nenhum silêncio é possível
se não domina os próprios sentidos, e não orienta as potências da alma.
Enquanto há ruído, você não obtém qualquer percepção do Divino, pois os
pequenos avisos que se intrometem de permeio entre os reflexos mentais são, de
logo, esquecidos, e, de outras vezes, nem consegue aperceber-se deles ou distinguir
sua origem.
Por esse
motivo, suas declarações de amor não ultrapassam o círculo estreito onde a sua
voz pode ser ouvida ou onde sua mente alcança. Para cada pensamento que dirige
a Deus, existem bilhões que dele se afastam, refletindo apenas o mundo em
volta. Você nem sabe quem realmente é.
O seu eu
é divino, mas você não conhece sua natureza essencial. Os jogos mentais com que
se delicia não permitem que se aproxime dela, e nem, ao menos, questione quem
você é. Você nunca perguntou - “quem sou eu?”.
Se você
se desconhece, quem realmente declara amor a Deus? Não pode sequer afirmar que
seja você quem ama ou se apenas reflete idéias, pensamentos ou modismos à sua
volta. Sem descobrir-se, como poderá declarar um amor verdadeiro? Entre os
esposos, a maior causa de desunião é o fato de que eles não se conhecem: não só
desconhecem-se entre si, como não conhecem eles próprios; daí, após a união,
descobrirem ter sido outra a pessoa com quem se comprometeram ou que foi outrem
quem se comprometeu. Um lar formado por estranhos a si mesmos não pode
sobreviver. Como pensa, pois, ser possível estabelecer relações permanentes com
o Divino, se você não sabe realmente quem é e, destarte, não sabe quem ele
seja? Se se conhecesse, conheceria o Divino, porque sua natureza é divina.
Você
necessita silenciar a mente para conhecer-se. No seu silêncio, descobrirá a
linguagem do amor, do amor silencioso com o qual se unirá a Deus. Isto é uma
verdade prática, e não especulação. Jesus declarou uma condição para que o
indivíduo pudesse amar. A verdadeira caridade não se aperfeiçoa sem o silêncio
interior. Relembre a recomendação do Senhor sobre como realizar a caridade e
orar. É preciso dar com uma mão, de modo que a outra não veja, isto é, a mente
não pode aperceber-se de que faz algo, sem o que o indivíduo entrará no
comércio do “dou para que me dês”. Não é das outras pessoas que você deve
ocultar a posição de doador, porque o beneficiário quase sempre saberá; é de
você mesmo. Quando você conhecer o seu eu, saberá que é Deus quem, em verdade,
obra, e que você é, apenas, o instrumento do seu agir. O quarto interno em que
deve orar é a mente vazia de interesses; ali tomará os primeiros contatos com o
divino. No silêncio, a linguagem do amor será a união dos semelhantes - amor com
amor. O verdadeiro amor se expressa sem palavras.
YOGASHRIRISHNAM
Médium: Elzio
Ferreira de Souza
Livro:
Divina Presença: comentários mediúnicos a João da Cruz - Elzio Ferreira de
Souza/Yogashririshnam - Editora Circulus.
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