terça-feira, 22 de maio de 2018

ELZIO FERREIRA DE SOUZA/YOGASRIRISHNAM - RUÍDOS - QUEM SOU EU? E VOCÊ?


RUÍDOS


- Senhor, o ruído pode impedir a comunicação espiritual? - inquiriu o discípulo.

- Depende de onde estiver sua mente: se esta presta atenção, não há como se colocar a comunicação em dia. Mas naturalmente há um nível de barulho do qual nem todos conseguem livrar-se.

- Mas, senhor, todo barulho perturba a mente.

- Quando se está com o pensamento em Deus, o próprio barulho é música de Deus.

- Entretanto, o barulho pode ser causado por diversos motivos: uma aparelhagem de som, pancadas de operários trabalhando, o ruído da rua, etc., estas não são condições agradáveis para o trabalho. Retirados no Himalaia, os mestres conseguem, com o silêncio, a ambientação necessária para dedicarem-se a Deus.

- No entanto, alpinistas vão ao Himalaia e apenas conseguem escalá-lo, desistem ou encontram a morte. Seus guias vivem nas montanhas e não estão mais próximos de Deus do que outros que vivem em outras regiões. O silêncio do ambiente naturalmente facilita o trabalho, porém o decisivo é o lugar em que está a mente: quando ela está situada em coisas materiais, pouco importa o nível de barulho ou de silêncio que possua, porque ela faz bastante barulho para ocupar o ser e direcioná-lo.

- Então não existe ambiente mais propício?

- Estás tomando posições radicais, o que não é bom para o entendimento de qualquer questão. Um ambiente favorável sempre ajuda os que iniciam, os que ainda não obtiveram adiantamento e uma estabilidade suficiente, e também poderá ajudar os que já se encontram adiantados. Mas não existe desenvolvimento espiritual apenas porque se tenha conseguido um local silencioso para meditar. Às vezes, a mente está tão inquieta que não consegue absorver o silêncio e vai à cata de ruídos quaisquer que sejam para ocupar-se, e, quando os percebe, irrita-se porque eles o quebraram.

- O senhor há de convir que o barulho exterior pode perturbar?

- Sem dúvida, quando o barulho nos perturba, estamos ainda longe de uma identificação com o Divino.

- O barulho, todavia, de uma banda de rock deve impedir a meditação.

- Quem o levou a ouvir uma banda de rock? Podes dizer que ligaram uma aparelhagem de som, e isto te perturba. Uma música do teu agrado massagearia a mente… Sem dúvida, estamos ligados a problemas a cada passo, mas, mesmo quando eles acontecem, é necessário manter a calma para enfrentar tais contratempos. Se te mantiveres calmo, podes estar certo de que estás em plena meditação, sem que seja necessário fechar os olhos, deixá-los semicerrados, repetir um mantra, etc. Quando somos capazes de suportar contratempos, a nossa mente está se dirigindo para o local certo, estabelecendo uma ligação correta com o Divino. Dirás que isto não é fácil, mas desconfies sempre das facilidades da vida. As coisas no nosso planeta não foram feitas para serem fáceis.

- Por que, senhor, devemos enfrentar tantas dificuldades ainda quando estamos à procura de Deus?

- Um garimpeiro diante de um monte de terra ou à beira de um rio há de perguntar a mesma coisa; é possível que gostasse de ver pepitas de ouro ou pedras de diamante à mostra, mas se fosse assim fácil, outros antes dele já teriam levado tudo. Se ele não se dispuser a um esforço contínuo, sem perder a esperança, nunca achará uma pepita de ouro ou uma pedra de valor. Sabes bem que, antes disto acontecer, montões de lixo devem ser retirados, muita peneiração deve ser realizada. Com a pepita nas mãos, entretanto, todo trabalho desenvolvido é esquecido. O Senhor Jesus disse-nos que onde estivesse o coração aí estaria o nosso tesouro. A pergunta é sempre a mesma - “onde colocaste o teu coração?” Ao apaixonar-se por uma mulher, o homem é capaz de todos os sacrifícios para cortejá-la e manter a paixão sendo correspondida; enquanto mantiver-se neste estado, o trabalho não será avaliado, ele não sentirá qualquer esforço. Quando se costuma valorizar muito o esforço despendido em uma tarefa é porque o objetivo não está sendo valorizado, mas sim o meio: com o tempo, este acabou tomando o lugar do objetivo. As pessoas vão aos templos e depois apresentam um inventário das horas que ali passaram. Retiram-se para orações e contabilizam o tempo em que dizem ter estado em meditação, e assim por diante. Em realidade, para elas o meio é tudo, e, presas a estes, nunca obtêm o objetivo. Deus deve ser a única meta. Ao agarrares com firmeza esta idéia, todo trabalho despendido para alcançar o fim lhe parecerá nenhum. Existe algum esforço realmente grande que não estejamos resolvidos a fazer quando queremos alcançar a comunhão com a Divindade?

O mestre silenciou por um momento e concluiu:

- Em realidade, uma mente despreparada faz muito mais barulho do que qualquer coisa neste mundo.


YOGASHRIRISHNAM


Médium: Elzio Ferreira de Souza
Livro: Espaço, Tempo e Causalidade- Elzio Ferreira de Souza/Yogashririshnam - Editora Circulus.

 

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QUEM SOU EU? E VOCÊ?


“... a linguagem que ele ouve é o amor silencioso”.
Carta n.º 8
João da Cruz


Ninguém consegue amar a Deus se não faz silêncio dentro de si mesmo. O silêncio mais importante não é o dos lábios, mas aquele que resulta de calar desejos e emoções. Enquanto a mente se movimenta no jogo dos interesses, de um lado para outro, e soa como o marulho das ondas em noite de tempestade, você não pode ouvir a voz de Deus. Não há nenhum barulho maior que o produzido pela mente.

A mente é como um animal bravio que arrasta o condutor depois de desmontá-lo. Você pode julgar-se o senhor, mas ela é realmente quem comanda. Você nunca lhe impôs as rédeas, sempre achou bonito a maneira com que ela se portava, sem perceber que sua conduta era resultado do alimento que lhe proporcionava. Com a mente presa aos sistemas do mundo, alimentando-se de tudo o que vê, ouve, sente, cheira e degusta, incapaz de usar a capacidade de discriminação para purificar as informações, não pode dizer que efetivamente sabe pensar ou se apenas reflete a vida ao redor sem nada de realmente seu.

Como o animal, a mente depende do cavaleiro. Você não pode permitir que ela o leve para onde deseje ou seja impressionada por pensamentos que assimile, por ondas que recepcione, por estados de espírito que registre. Você necessita aprender que a mente pode ser um instrumento valioso, se a coloca em mãos do Divino. Para consegui-lo, tem que aprender a silenciá-la, e nenhum silêncio é possível se não domina os próprios sentidos, e não orienta as potências da alma. Enquanto há ruído, você não obtém qualquer percepção do Divino, pois os pequenos avisos que se intrometem de permeio entre os reflexos mentais são, de logo, esquecidos, e, de outras vezes, nem consegue aperceber-se deles ou distinguir sua origem.

Por esse motivo, suas declarações de amor não ultrapassam o círculo estreito onde a sua voz pode ser ouvida ou onde sua mente alcança. Para cada pensamento que dirige a Deus, existem bilhões que dele se afastam, refletindo apenas o mundo em volta. Você nem sabe quem realmente é.

O seu eu é divino, mas você não conhece sua natureza essencial. Os jogos mentais com que se delicia não permitem que se aproxime dela, e nem, ao menos, questione quem você é. Você nunca perguntou - “quem sou eu?”.

Se você se desconhece, quem realmente declara amor a Deus? Não pode sequer afirmar que seja você quem ama ou se apenas reflete idéias, pensamentos ou modismos à sua volta. Sem descobrir-se, como poderá declarar um amor verdadeiro? Entre os esposos, a maior causa de desunião é o fato de que eles não se conhecem: não só desconhecem-se entre si, como não conhecem eles próprios; daí, após a união, descobrirem ter sido outra a pessoa com quem se comprometeram ou que foi outrem quem se comprometeu. Um lar formado por estranhos a si mesmos não pode sobreviver. Como pensa, pois, ser possível estabelecer relações permanentes com o Divino, se você não sabe realmente quem é e, destarte, não sabe quem ele seja? Se se conhecesse, conheceria o Divino, porque sua natureza é divina.

Você necessita silenciar a mente para conhecer-se. No seu silêncio, descobrirá a linguagem do amor, do amor silencioso com o qual se unirá a Deus. Isto é uma verdade prática, e não especulação. Jesus declarou uma condição para que o indivíduo pudesse amar. A verdadeira caridade não se aperfeiçoa sem o silêncio interior. Relembre a recomendação do Senhor sobre como realizar a caridade e orar. É preciso dar com uma mão, de modo que a outra não veja, isto é, a mente não pode aperceber-se de que faz algo, sem o que o indivíduo entrará no comércio do “dou para que me dês”. Não é das outras pessoas que você deve ocultar a posição de doador, porque o beneficiário quase sempre saberá; é de você mesmo. Quando você conhecer o seu eu, saberá que é Deus quem, em verdade, obra, e que você é, apenas, o instrumento do seu agir. O quarto interno em que deve orar é a mente vazia de interesses; ali tomará os primeiros contatos com o divino. No silêncio, a linguagem do amor será a união dos semelhantes - amor com amor. O verdadeiro amor se expressa sem palavras.


YOGASHRIRISHNAM


Médium: Elzio Ferreira de Souza
Livro: Divina Presença: comentários mediúnicos a João da Cruz - Elzio Ferreira de Souza/Yogashririshnam - Editora Circulus.

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