quarta-feira, 22 de julho de 2015

FRANCISCO VALDOMIRO LORENZ - QUANDO LÁ CHEGAREI / O SONHO DE DAVI / DE SÓCRATES




QUANDO LÁ CHEGAREI?



Queridos amigos, já vos disse que o fim de todo o estudo é chegar ao conhecimento de si mesmo. 

Perguntareis, talvez: “E quando lá chegarei?” Isto depende de vós mesmos; quem trabalha assiduamente, conclui o seu trabalho mais depressa do que quem trabalha vagarosamente ou até senta-se ou deitar-se em vez de trabalhar. Posso dizer-vos apenas que, sem estudar, não se aprende ciência alguma; e que todo estudante sério se dedica ao estudo com gosto, aplicação e perseverança. Vou contar-vos a história de um viajante: Ia um viajante, a pé, a uma cidade. Descansando, sentou-se à beira da estrada. Passou por ele um camponês que ia lavrar suas terras.

O viajante levantou-se e, saudando-o, perguntou:

- Em quantas horas chegarei a cidade?

O camponês respondeu: 

- É preciso que caminheis.

- Eu bem sei que preciso caminhar – retrucou o viajante -, mas poderia dizer-me em quantas horas lá chegarei?

- É preciso que caminheis – repetiu o camponês.

O viajante julgou que o homem era louco e pôs-se a caminhar bem depressa.

Apenas tinha dado alguns passos, gritou-lhe o camponês:

- Em duas horas poderei estar na cidade.

Estupefato, indagou o viajante:

- E por que não me disseste antes?

Ao que o outro replicou:

- Como eu vos podia dizer antes de ver se caminháveis depressa ou devagar? 

Assim, meus caros amigos, também vos deveis caminhar na estrada do progresso, antes que se possa dizer-vos se estais ou não perto do vosso alvo.


FRANCISCO VALDOMIRO LORENZ - Escritor místico tcheco, doutor em Cabala, ocultista, poliglota, Esperantista - 1872-1957. A FEB, publicou algumas obras valiosas de sua autoria. 

Fonte: Livro: No Jardim da Alma - Francisco Valdomiro Lorenz - Editora Lorenz. 1918.


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O SONHO DE DAVI



Estava o jovem Davi repousando, numa noite, debaixo de uma árvore, num campo onde apascentava seus rebanhos. A noite era clara e calma, e Davi observava o céu sereno, em cujas alturas cintilavam milhares de lindíssimas estrelas.

“Oh! se eu tivesse as asas de águia”, exclamou entusiasmado o pastor, “para poder voar até lá onde brilham esses astros, e onde os anjos e arcanjos, mergulhados nos esplendores inefáveis, gozam da presença imediata de Deus”.

Nisto apareceu a seu lado um anjo e disse-lhe: “O teu desejo, Davi será satisfeito”. E tocando com a sua mão os olhos do jovem, adormeceu-o. E Davi sonhou, e o seu sonho elevou-o às alturas aneladas, e ali passou ele, de astro em astro, e de um céu a outro, e viu milhares de seres espirituais, falou com eles e percebeu que, em poucos minutos aprendia muito mais ali do que em anos inteiros na terra. Por toda parte reconhecia uma perfeita ordem e harmonia imperturbável. A sua alma sentiu-se como um elo na infinita cadeia dos seres, e naquele momento esteve consciente da sua união íntima com o Todo. Nisso olhou para baixo, para a terra, e notou que as suas ovelhas iam-se afastando do lugar onde as deixara, correndo na direção de um atoleiro. Uma angustiosa ideia de poderem perder-se apoderou-se dele, e com um forte desejo de acudir-lhes, voltou à terra e despertou-se. 

“Foi uma ilusão?” perguntou a si mesmo, vendo que o rebanho não se tinha ausentado.

Mas o anjo reapareceu-lhe dizendo: 

“O que o teu espírito viu, foi realidade. Porém não te esqueças que as coisas espirituais hão de ser compreendidas espiritualmente. Não pudeste permanecer por muito tempo nas regiões etéreas, porque tens ainda deveres para cumprir na terra. O teu rebanho de ovelhas simbolizou-te estes Deveres, que te fizeram abandonar o céu, para não os negligenciares. Todas as vezes, porém, que a tua alma sentir em si atração das esferas celestes, poderás voar às regiões elevadas nas asas da tua intuição”. 


FRANCISCO VALDOMIRO LORENZ - Escritor místico tcheco, doutor em Cabala, ocultista, poliglota, Esperantista - 1872-1957. A FEB, publicou algumas obras valiosas de sua autoria. 

Fonte: Livro: Contos e Apólogos - Francisco Valdomiro Lorenz - Editora “O Pensamento.


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DE SÓCRATES


No ano 470 antes de Jesus Cristo, nasceu em Atenas um homem extraordinário, que a Providência divina encarregou de elevada missão, de regenerar a vida espiritual da Grécia, envenenada pela expansão do ceticismo e sofisma. Os cépticos, duvidando de tudo, levavam diretamente ao ateísmo; porque quem duvida de tudo, como poderá afirmar a existência de Deus? Os sofistas, acostumados a sustentar, em todas as questões, tanto o pró como o contra, não podiam dar bases firmes nem a filosofia, nem à moralidade. Ambos esses grupos produziram uma crise perigosa na sociedade, porque à sombra das suas doutrinas corrompiam-se os costumes e minavam-se as instituições fundamentais da ordem.

Já o nome de Sócrates, prova a sua missão providencial, pois significa: força da Razão. Sim, foi necessário dar ao mundo um homem que provasse, por sua vida, seus ensinos e sua conduta, a força da razão são e iluminada pela luz da intuição. Sócrates justificou o seu nome que a posteridade venera como um modelo de critério nas investigações e de irrepreensível moralidade no proceder. As suas doutrinas levam ao conhecimento e culto da Divindade; afirmam a vida imortal da alma, caminho que os homens devem seguir para se prepararem dignamente à vida no além do túmulo, onde cada alma recebe o prêmio das boas e o castigo das más ações que praticou.

Assim como mais tarde o divino Jesus, também Sócrates foi perseguido pelas autoridades e por elas condenado à morte. Acusaram-no de pregar ateísmo e de corromper a mocidade. Ateu – ele, que baseava toda a sua doutrina no conhecimento e reconhecimento de Deus! Corruptor da mocidade – ele, que aconselhava aos jovens o estudo e a prática das boas obras! Que injustiça!

O grande filósofo foi preso, aos setenta anos de idade, e condenado a beber cicuta. Vindo visitá-lo antes da morte, a sua mulher desatou a chorar, exclamando: "És inocente e, contudo, deves morrer?!” Ao que Sócrates respondeu, com calma: “Acho que é muito melhor, para mim, sofrer a morte e ser inocente, do que morrer carregado de culpa”.

Alguns amigos tentaram libertá-lo, mas ele negou-se a fugir do cárcere, dizendo: “Sempre ensinei que necessário respeitar-se as leis; como pois, poderia eu mesmo desrespeitar a lei em que baseiam os meus juízes?”

Quando lhe trouxeram a cicuta, que era o veneno que o devia matar, perguntou o que tinha a fazer.

“Nada mais”, respondeu o carcereiro, do que passear depois de ter bebido, até que experimentes peso nas pernas; depois te deitarás, e quando o frio te subir das pernas até o coração, morrerás”.

Então Sócrates bebeu e passeou, falando aos seus discípulos sobre a imortalidade da alma, e quando sentiu dobrarem-se-lhe as pernas, deitou-se e expirou com tranquilidade própria a seu grande espírito. 

Depois de sua morte, os atenienses reconheceram o crime que tinham cometido, condenando e matando um justo, e ergueram-lhe uma estátua.

Como narra Cícero, Sócrates não trouxe desde a nascença qualidades de caráter; a natureza deu-lhe a propensão a vários vícios, mas ele venceu as más inclinações pela força de vontade, por sérios esforços e pela disciplina que a si mesmo impôs.

Uma vez, estando em roda de amigos, encontrou-se o grande filósofo com o fisionomista Zófiro, que afirmava que, pela observação do corpo, face, fronte e vista, podia dizer os costumes e o caráter de uma pessoa. 

“Então prova em mim a tua ciência”, disse-lhe Sócrates, a quem Zófiro não conhecia pessoalmente.

O fisionomista, depois de tê-lo examinado, declarou que era homem de curto intelecto, turbulento e muito apaixonado por mulheres. Não pode prosseguir, porque Alcebíades, ouvindo tais palavras, prorrompeu em forte riso, e também os demais companheiros se riram, porque nunca haviam notado tais vícios em seu mestre. Sócrates, porém respondeu: “Zófiro não está em erro. Eu teria os defeitos por ele indicados, se não tivesse dominado e transformado a minha natureza pela força de minha vontade”. 



FRANCISCO VALDOMIRO LORENZ - Escritor místico tcheco, doutor em Cabala, ocultista, poliglota, Esperantista - 1872-1957. A FEB, publicou algumas obras valiosas de sua autoria. 

Fonte: Livro: Contos e Apólogos - Francisco Valdomiro Lorenz - Empresa Editora "O Pensamento" - 1918.

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