quinta-feira, 21 de maio de 2015

AMÉLIA RODRIGUES - ESCRITOS QUANDO ENCARNADA


AMÉLIA RODRIGUES (Amélia Augusta do Sacramento Rodrigues) - Notável educadora, escritora, teatróloga e poetisa brasileira - 1861-1926.

APELO AO LIVRO NOBRE

Amigo:
Escuta-me um pouco.
Sou fiel servidor da tua alma nos caminhos da evolução.
Corporifiquei-me, vencendo obstáculos da ignorância e dificuldades do orgulho para ajudar-te.
Não me transformes em adorno secundário nas prateleiras das estantes da tua casa.
Nunca te importunarei...
Minha voz chegará ao teu cérebro somente quando te disponhas a escutar-me.
Jamais me cansarei de repetir-te sem enfado e com o mesmo carinho, os mais nobres ensinamentos.
Não me queixarei quando a exasperação atirar-me sobre a mesa ou a cólera esfacelar-me o corpo.
Nasci com o sacrifício das árvores e vesti-me de branco para que o suor das meditações e as lágrimas da experiência dos outros me tingissem as páginas e o amor pudesse bordar-me de luz para clarear as noites
do teu pensamento.
Somente eu conseguirei aconselhar-te sem que enrubesças de pudor e constrangimento e somente eu silenciarei quando não me queiras ouvir.
Se buscares penetrar-me, desvelarei horizontes desconhecidos à tua mesa Transformar-me-ei em abençoado estímulo e darei forças a seus pés claudicantes na romagem difícil.
Farei da bondade o motivo central das tuas horas e, compreensivo, ajudar-te-ei discretamente a lutar e a vencer.
Influirei na tua vida como não podes imaginar e contigo incutirei na comunidade inteira diretrizes superiores da vida.
Apóia-me e apoiar-te-ei.
Recebe-me e abrirei muitas portas para que passes livremente.
Se, todavia, me relegares ao abandono, serei um amigo morto sem expressão nem valor.
Emudecido, não tenho significações.
Fechado, sou candidato à inutilidade e ao lixo.
À margem, perco-me em sombras.
Todas as expressões que os minutos me gravaram quedam-se em abandono.
Sem que o teu pensamento me atinja, nada posso fazer para ajudar-te na perturbação e, sem o meu concurso, a treva, a breve tempo, terá dominado o teu corpo, deixando-te sem luz nem vida.
Em atividade, porém, proponho-me a enobrecer-te, para que, entre os meus, o teu caráter não se envileça nem o teu coração se insensibilize na indiferença,
Enquanto estejas a ouvir-me, escreverás, também, as páginas do livro da tua vida, nelas gravando, com os teus atos, palavras e pensamentos, as experiências que te confiarei.
Mesmo que me desprezes, um dia, surgirei diante de ti, no tribunal da vida verdadeira, apresentando ao Mestre Divino a escrituração da tua jornada, em caracteres firmes e claros, onde identificarás, do teu próprio punho, as experiências malogradas nos dias de insânia e desídia.

AMÉLIA RODRIGUES

Fonte: Amélia Rodrigues - Apelo ao Livro Nobre. In Aplicação Gramatical - Divulgadora Editorial



A MINHA PÁTRIA

Pátria... se todo o ouro e todas as riquezas
Que o universo contém: tronos, palmas, grandezas,
Pra fazer-me trair-te, alguém trouxesse aqui,
Nada disso, jamais eu trocaria por ti...

Se fosse a mais pobre, a mais desamparada
De todas as nações, cativa, desolada,
Sem recursos, na treva, exausta, a definhar,
Quereria eu morrer para te libertar.

Se não pudesses dar-me o refúgio do teto,
Um pedaço de pão, o beijo de um afeto...
Se os sacrifícios meus desprezasses, enfim,
Eu te amaria ainda assim...

Quando às vezes contemplo e percorro na mente
Mares, terras dalém, não descubro, realmente,
Nada que comparar se possa ao brilho teu...
Pátria... melhor que tu apenas vejo o céu...

Quando alguém junto a mim teu nome pronuncia,
Sinto um gosto de mel... ressaibos de ambrosia...
É que me vem à boca, em doce comoção,
O amor que te consagro e me enche o coração.

Quando a tua bandeira esplêndida tremula,
Minha alma corre a ela, extasiada e oscula,
Num transporte de amor a enrola toda em si,
E julga e sonha e crê que se fundiu em ti...

Pátria formosa e grande... a teus pés prisioneira
Aqui tens, para servir-te. a minha vida inteira...
és minha mãe... aceita o que eu valer e for
Pois tudo é teu, só teu, Pátria do meu amor... 

AMÉLIA RODRIGUES

Fonte: Coletânea de Mensagens, compiladas por Ir. Germano Rebellato - La Salle. 



A PAZ

Onde encontro a paz?...
Pergunto-me a todo instante.
Procurei-a há tempos idos num lugarejo distante...
Procurei-a num largo anfiteatro e ainda não achei...
Procurei-a, desta vez, num circo e também não encontrei...
Então pensei: está no lar!...
Mas lá não estava.
E pus-me novamente a buscá-la nos canteiros floridos, no pôr-do-sol, em todas as maravilhas do Universo e nada consegui encontrar...
Um dia, embaraçada com tanta busca, perdi-me dentro de mim e... qual não foi a minha surpresa!
Lá estava ela... A sorrir.


AMÉLIA RODRIGUES


Fonte: Site:
http://ameliaeducadora.blogspot.com.br/2009.

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