JESUS - O PESCADOR DE ALMAS:
Abdias era um dos
pescadores do lago de Genesaré, ou do Mar da Galiléia.
Homem duro, cara
fechada; dificilmente sorria... Somente quando, em qualquer assunto, surgissem
as palavras dinheiro ou lucro; aí, então, seus olhos se iluminavam.
Seus lábios
semi-escondidos por enorme barba, deixavam transparecer um sorriso – misto de
alegria e cobiça.
Certa tarde, ao
voltar para casa, ouviu comentários sobre uma “pesca maravilhosa”, efetuada por
Simão, seus companheiros e um tal de Jesus, o qual hospedava-se na casa de
Simão.
Ao adentrar a porta
de sua casa, deparou-se com Ruth, sua esposa que àquela hora já preparava o
jantar e, com os olhos brilhando de tanta ansiedade, falou:
Ruth, eu ouvi dizer
que Simão e os demais pescadores conseguiram apanhar tantos peixes que até
mesmo as redes, não agüentando, rompiam pelo peso da pesca!...
Ouvi dizer também
que tal pesca, só foi possível porque o hóspede de Simão, é advinho... Ele
sabe, por meio da magia, localizar onde os peixes se encontram em grande
quantidade.
Ah! Seu eu pudesse
falar com ele... Se ele aceitasse!...
Aceitar o que,
homem?
Ora essa Ruth, que
pergunta!...
Se o tal Jesus
quisesse trabalhar comigo, dentro de poucos anos eu me tornaria o homem mais
rico desta região. Bastava que ele, com sua magia, me indicasse onde encontrar
os peixes e, depois da pesca, após a venda dos peixes, eu dividiria os lucros
com ele. Ele seria meu sócio.
Nossa, Abdias, não
fale assim. O hóspede de Simão tem outra missão – a de pescar almas.
Falei com ele ontem
pela manhã e nunca me senti tão bem ao falar com alguém. Suas palavras são
cheias de sabedoria e sua voz é tão suave...
Pois, para mim,
Ruth, nada é mais suave que o tilintar das moedas...
Depois de uma
semana, o pescador, movido pela cobiça, resolveu conversar com Jesus. Foi até a
casa de Simão, bateu por diversas vezes na porta e ninguém atendeu. Resolveu,
então, perguntar ao lado, na casa vizinha, se sabiam de alguma coisa sobre o
paradeiro de Simão e seu hóspede, e a informação, recebida deixou-o triste:
- Eles partiram
ontem à tarde. Seu Abdias – disse uma senhora de meia idade.
Ouvi dizer que
iriam para o lado de Cafarnaum.
E essa agora?
Essas palavras
foram ditas com raiva, enquanto os punhos fechados de Abdias pareciam comprimir
numa fúria louca, alguma coisa por entre os dedos.
Voltando para casa
encolerizado, chutava todo e qualquer calhau que encontrasse pelo caminho. Com
os olhos faiscando de raiva, cenho carregado, parecia um velho insano.
Ao lado de Ruth, no
entanto, aos poucos foi-se acalmando e contou o ocorrido.
Dias depois, munido
de víveres e algum dinheiro, saiu em busca de Jesus, para propor-lhe a
ambiciosa sociedade.
Todavia, não
conseguira encontrar nosso adivinho...
Três dias depois que
partira, Abdias foi encontrado quase morto nas colinas da Galiléia. Fora
assaltado por terríveis sicários que lhe surrupiaram até a última moeda.
Ao voltar carregado
para casa, sua chegada foi um golpe dolorido para o meigo coração de Ruth que,
daquele dia em diante, passou a trabalhar de dia e parte da noite, para
conseguir o sustento para si e para o marido, que não mais conseguiu andar.
O sofrimento por
que passava e a abnegação que notava em sua querida esposa, abrandaram o seu
coração ressequido pela cobiça.
Agora, à noitinha,
ouviu triste, mas paciente, as palavras que fluíam docemente dos lábios de sua
querida Ruth, que, embevecida, recordava os ensinamentos que ouvira pela voz
mansa e suave de Jesus - o "Pescador de Almas”.
Naquele tempo, o
Querido Mestre, era classificado segundo os interesses:
Para o povo faminto
– um distribuidor de pães e peixes;
Para Anás e Caifás
– um homem perigoso, revolucionário;
Para Judas
Iscariotes – alguém capaz de dizimar o exército romano;
Para a multidão
inconsciente – um simples candidato à cruz.
Mas, para os
corações bondosos como o de Ruth, o Cristo foi e continuará sendo o POSSUIDOR
de palavras sábias e de voz suave... O Amigo de todas as horas.
Antônio Lúcio
Fonte: Jornal Nova Era.
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