quarta-feira, 14 de setembro de 2011

CÉLIA LUCCHESI DE CARVALHO / GONZAGA - FARNEL DA FRATERNIDADE


 
FARNEL DA FRATERNIDADE: 
 
Ergui para meu senhor um templo inatingível no santuário de minha alma. Nele, dentro dos rituais dos sentimentos, cultuei o Senhor na alegoria em que o egoísmo se transvestira em adoração fugaz.
Adornei o altar com um candelabro de sete braços, simbolizando as dádivas de minha alma, iluminada pelo amor.
Na adoração, isolei-me dos homens, sem dar ouvidos aos apelos do mundo julgando que servia ao Criador.
Lembro-me que um dia, fui arrancado de minha adoração, pela voz de uma criança. Aborrecido pela intromissão que obrigava a interromper a contemplação, cheguei a janela, descerrando-a parcialmente para que o altar não fosse profanado por olhares ímpios.
Uma criança desnuda, descalça e frágil, pedia-me pão.
Eu os possuía abundantemente, mas se os providenciasse para atender seu pedido, interromperia o culto votivo.
Sem responder, fiz-lhe um gesto de negativa, mostrando-lhe a estrada, que a seguisse, sem perturbar a prece de um cristão devoto.
Ao voltar, espantei-me por perceber que as sete velas estavam apagadas e o livro que deixara fechado sobre o altar, estava aberto. Aproximei-me, estava escrito: “Tive fome e deste-me de comer”.
Quem abrira o livro, se eu estava só e o vento não perpassara suas folhas?
Percebi que das velas do candelabro, pingavam lágrimas de cera.
Compreendi a ordem. Corri para a janela chamando pela criança maltrapilha, que caminhava tristemente pela estrada que eu lhe indicara.
Abri as portas, matei-lhe a fome, agasalhando aquele corpo maltratado.
Antes que partisse ofereci-lhe um farnel que lhe sustentaria por longo tempo.
Retornei ao santuário. As velas estavam acesas e o livro aberto em outra página. Pude ler: “Se me amas, apascenta as minhas ovelhas”.
Compreendi a mensagem.
Antes que o sol se pusesse, vendi o candelabro de ouro, os mármores do altar, as toalhas de linho, o ouro e a púrpura, do meu manto. Com o que foi arrecadado, fiz um farnel repleto de pão e agasalho, amor e compreensão. Tranquei a porta do templo, saindo pelo mundo carregando o “Farnel da Fraternidade” em busca das ovelhas perdidas do rebanho de meu Senhor.
Encontrei milhares delas e a medida que as atendia, aumentavam os elementos que a compunham.
Nas noites de repouso, jamais vi cair lágrimas dos olhos de nenhuma estrela, que enfeitava o céu de minha esperança.
Isso é motivo de muita alegria, é um sinal que o Senhor aceitou o culto de minha alma, na transcendência da mensagem fraterna do amor cristão. 
 
Médium: Célia Lucchesi de Carvalho 
Espírito: Gonzaga

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