terça-feira, 2 de agosto de 2011

CÉLIA XAVIER DE CAMARGO / LÉON TOLSTOI - O TESOURO ESCONDIDO



O TESOURO ESCONDIDO:

Certa vez, numa pequena cidade morava um homem que trabalhou a vida inteira, para amontoar riquezas. Assim procedia, afirmava ele, para deixar os filhos amparados após sua morte e sem necessidade de trabalhar para garantir o próprio sustento.
Para isso não mediu esforços. Vivia de forma muito simples, onde faltava, não raro, até o necessário, no afã de economizar cada vez mais.
A família não tinha qualquer conforto. A esposa trabalhava duro o dia inteiro e, às vezes, sentindo-se cansada, pediu:
- Manoel, sinto-me doente, enfraquecida, tenho dores pelo corpo todo. Não poderíamos arrumar alguém que me ajudasse no serviço doméstico?
- De jeito nenhum, Alzira! Essas empregadas cobram uma fortuna! Não podemos dispor desse dinheiro.
De outras vezes era a filha que, necessitando comprar roupa ou calçados, atrevia-se a pedir dinheiro ao pai.
Manoel retrucava, colérico:
- Você pensa que dinheiro nasce em árvores? Não posso pagar o seus luxos.
E a filha afastava-se tristonha e desanimada, sonhando com o dia em que pudesse sair de casa para ter uma vida melhor.
Ou então era o filho que precisava comprar material escolar, e encontrava o pai irredutível.
- No começo do ano já comprei tudo o que você precisava. Não gastarei mais um centavo sequer!
E o filho revoltado, saia remoendo à sua decepção.
E assim ele agia com todos. Aos pedintes que vinham bater-lhe à porta suplicando um prato de comida, Manoel escorraçava sem piedade.
Quando os responsáveis por alguma instituição beneficente se atreviam a pedir-lhe ajuda para seus serviços de caridade, junto aos mais necessitados, Manoel relatava uma série de dificuldades com a família, gastos excessivos e contas inesperadas, concluindo:
- Infelizmente não posso ajudar!
O tempo passou, Manoel conseguiu juntar imensa fortuna que guardava sempre, avaramente. Como não confiasse em ninguém, nem mesmo numa agência bancária, escondeu-o dentro de seu velho colchão. Queria tê-lo sempre perto de si, sob suas vistas.
A esposa reclamava de dores nas costas, sugerindo que trocassem, pelo menos o colchão, que estava velho e remendado, já sem condições de uso.
Manoel raivoso, de dedo em riste, ordenava:
- Jamais! Não mexa no “meu” colchão! Gosto dele do jeito que está!
O filho não suportando mais tanta miséria, saiu de casa indo morar com um amigo e se desencaminhou, tornando-se um alcoólatra. A filha, igualmente casou-se com o primeiro homem que surgiu em sua vida, apenas para poder se livrar daquela situação de penúria, e não era feliz.
Apenas Alzira continuava com o marido, visto não ter para onde ir ou a quem recorrer.
Certo dia, Manoel sentiu-se mal. Socorrido foi levado para o hospital onde veio a desenganar.
Alguns dias depois, Alzira e os filhos reuniram-se para resolver o que fazer dos pertences do falecido Manoel!
A primeira coisa que decidiram foi colocar fogo no colchão que ele tanto prezava. Os filhos levaram-no para o quintal, estranhando o peso, mas jamais poderiam imaginar que ali estivesse depositado um imenso tesouro.
E Manoel, do outro lado da vida, desesperado, não pôde impedi-los.
Sob terrível aflição, viu as chamas consumirem o esforço de toda uma vida.
Só então Manoel lembrou-se das palavras de Jesus quando dissera: “Não acumuleis tesouros na terra, onde a ferrugem e os vermes o comem e onde os ladrões os desenterram e roubam; acumulai tesouros no céu, onde nem a ferrugem, nem os vermes os comem...”
O tesouro dele não havia sido roubado por ladrões, ou consumido pela ferrugem ou pelos vermes, mas fora devorado pelas chamas.
O pobre homem percebeu que tinha perdido grande parte da existência acumulando bens materiais que nem a ele mesmo serviram. Vivera de forma miserável, privara-se de conforto, de bem-estar e esgotara-se no trabalho. E, o que era pior, com o seu comportamento, perdera o amor da família.
Quanto aos tesouros do céu, que são imperecíveis, ele não se preocupara em juntar. Com tristeza, percebia agora o quanto poderia ter feito pelos filhos, dando-lhes uma vida mais confortável, facilitando-lhes a educação e preparando-os para serem cidadãos dignos, trabalhadores, honestos e úteis à sociedade.
Manoel, pela primeira vez, lembrou-se de orar a Deus. E, profundamente arrependido, suplicou ao Senhor lhe concedesse nova oportunidade de voltar à Terra, num novo corpo para reparar os danos que havia cometido.


Espírito: LÉON TOLSTOI
Médium: Célia Xavier de Camargo
Página publicada no Jornal O IMORTAL – Julho/1998.

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